quinta-feira, 4 de março de 2010

Monção: O som das histórias


Uma espécie de ritual: todos sentados no tapete, mostro um livro e trocamos ideias. Nesta foto apresento o "Espelho" de Suzy Lee antes de lançar um novo desafio aos jovens de Monção: construir uma história a partir de um trecho sonoro executado com sons quotidianos. Um exercício que procura realçar a autonomia de cada um, o leitor diferente do outro que existe em nós; exactamente como nos livros, quando construimos imagens a partir de um argumento que nos é oferecido pelo escritor. Com os sons convocamos, igualmente, esse universo interior, compondo imagens de acordo com as nossas vivências.

Primeiro trecho. Tomemos como exemplo o trabalho do 7ºE. Vejam como as versões a partir da mesma fonte sonora são diferentes (a Cindy e a Raquel não têm a mesma opinião, embora existam pontos de contacto):

"Era uma vez uma senhora que estava a subir as escadas. Abriu a porta e fechou-a até que encontrou pessoas e falou com elas. Deu um beijo, bebeu água e depois começou às gargalhadas. Fechou a porta, desceu as escadas e foi à praia onde ouviu o barulho das gaivotas e do mar."

"Era uma vez mulher que ouviu uns ruídos e desceu para ver o que era. Foi a uma porta ver o que era, mas não era nada; foi a outra porta e ouviu vozes; depois, foi a outra porta e viu pessoas a rirem-se. Saiu e subiu outra vez; foi à varanda e ouviu o mar e as gaivotas. Depois foi tomar banho"

Ainda a versão da Catarina:

"Era uma vez uma mulher que andava de saltos altos no seu hotel. Desceu as escadas, abriu uma porta, ouviu os ingleses a rirem-se e a falarem. A seguir, a mulher beijou uma pessoa; feliz, abriu uma garrafa de vinho e embebedou-se.Em seguida, foi ao mar, ouviu as ondas a bater e gaivotas a piar"

Segundo trecho. De novo a Cindy e a Raquel

"Era uma vez muitas abelhas, que eram amigas de um sapo, que encontrou uma rapariga muito bela e jovem. Mas o sapo tinha uma característica muito especial: ele falava. O sapo apaixonou-se pela rapariga, e a rapariga por ele. Quando a rapariga beijou o sapo, ele transformou-se em rapaz. Pouco tempo depois, eles casam e várias pessoas batem palmas"

"Era um vez um sapo que andava a cantar, entretanto aparece uma mosca. O sapo enerva-se e come-a. Uma rapariga vê aquilo e beija o sapo. O sapo transforma-se num rapaz e a rapariga e o rapaz casam-se."

A Marta resolveu a coisa de outra maneira (os alunos tiveram pouco tempo para o desafio):

"Um certo dia ouviu-se um sino tocar, pardais a chiar e por um momento ficou tudo em silêncio. Logo a seguir, ouviu-se uma mosca e logo um sapo tratou do assunto.
Uma rapariga que passava lá perto viu o sapo e o sapo de repente deu um salto na tentativa de lhe dar um beijo. Então, o sapo imaginou o seu casamento com ela.
“ Seria um sonho ou realidade?” - pensou o sapo."

Claro que os alunos foram buscar à sua memória leitora a história do sapo/príncipe ifuenciando o texto. Tratei de lhes explicar o fenómeno que ocorria nas suas cabeças imaginativas. O difícil é abstrairmo-nos dessas memórias leitoras e criar algo novo.
Termino aqui com 3 versos da Marta, feitos a partir da "máquina da poesia"
O homem corre do dia triste.
O menino joga na chuva fria.
A borboleta voa no céu profundo

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